Proclamação da família
Ontem foi o dia da Proclamação da República e hoje a nossa colunista vem com uma excelente reflexão sobre a Proclamação da família.
Em
todas as culturas, a constituição da família foi e continua sendo vista como
uma instituição importantíssima, não só no plano individual, mas também no
plano social. É a base de tudo. Mas em função das novas realidades e das
transformações das relações entre as mesmas, essa Criação de Deus tem mudado
muito, nos últimos tempos. Mas, vale a
pena proclamá-la. Independente deste ou daquele formato, do passado ou do
presente, todas elas merecem o nosso respeito.
+Nilva Moraes Ferreira
Como
vai a família? Vai bem?

Antigamente,
a família tradicional, composta por pai, mãe e filhos, que vem perdurando, até
hoje, era orgulho para toda a parentalha. A família dava prestígio para todos.
Representava a pátria e o poder. Era distinguida, muitas vezes, pela sua
origem/raça/moral e inclinação/vocação. Celebrar o casamento, a união de um
novo casal que pretendia iniciar uma família, muitas vezes, até entre parentes, era
a realização do maior desejo dos pais.
A
maioria das famílias representava muito bem seus filhos por três/ quatro ou
mais gerações. A maior parte era
numerosa de 12/14 filhos, do mesmo pai e da mesma mãe; ou não em razão de morte
natural de um dos dois. Os casamentos eram duradouros. A família, embora fosse
grande, não se perdia. Era referência em todos os lugares. Os filhos tinham
grande apreço ao falarem de quem era filho, neto ou bisneto. O pai era
autoridade legítima. A mãe era menos autoritária, dedicava exclusivamente ao
marido, aos filhos e aos serviços domésticos; mas na falta do pai, por morte do
mesmo, ela ou o filho mais velho o substituía/o representava, mantendo, sem
muita perda, a estrutura familiar. O tratamento aos dois pelos filhos era o
mais respeitoso possível. Os pais e o irmão mais velho, sempre, tinham
liderança e influência sobre todos. Davam nome/segurança/ avalizava/garantia em
negócios e falas. Lembro-me de minha avó dizer. “Aquele tem origem. Tem raça. É
filho do seu Fulano de tal, neto do Seu Cicrano e bisneto do Seu Beltrano”.
“Nunca deu prejuízo pra ninguém”. Por outro lado, existiam os que não faziam
por merecer. Sempre existiu.
Mesmo
naquela época, havia certos comportamentos e atitudes bem parecidas com as que
presenciamos, atualmente, porém bem menos trágicas. Mas a influência exercida
pela família, há um tempo, tinha maior determinação na educação dos filhos, e
até para a formação de uma sociedade. A maioria das famílias tinha um estilo
próprio de ser, de comportar, de educar os filhos, que não se distinguia muito
da ideologia de uma família para outra. Quase todas eram rígidas. Criavam os
filhos, impondo/fixando/estabelecendo o que desejavam para os filhos e que
esperavam dos mesmos, desde a mais tenra idade. Sem ficar aconselhando,
controlando. Havia uma série de atitudes que falavam pelos pais, servindo de
lição/exemplos/modelos para ir moldando o caráter de toda a prole, tanto pela
forma como direcionavam os estímulos aos filhos, quanto à religiosidade, aos
bons costumes, à ambientação de suas casas, às companhias e amizades dos
primeiros anos, ao positivismo ensinado, à maneira equilibrada em lidar com
situações delicadas, ao espírito “arrojado”/empreendedor para fazer as coisas
acontecerem, à rotina de como resolver embaraços de forma instantânea em vez de
adiar as situações, principalmente, quanto à honestidade.
A
tradição vem sendo abandonada
Antigamente,
não existiam as TIC (tecnologia de informação e comunicação). Tudo era exposto
através da vida que cada família levava. Através do próprio ritmo de vida,
experiências, tradição que ia passando de pai para filho, isto é, de geração
para geração. Os bons hábitos, as boas
regras de etiqueta e as boas maneiras prevaleciam em muitas situações. Todo
mundo reverenciava os parentes, os idosos, os religiosos, os professores, os
médicos, os administradores/políticos (prefeitos, governadores e presidentes)
etc. Todo profissional que passava por uma Universidade, que era raro, ou
tivesse uma representatividade ou um dom natural, até mesmo sem passar por uma
faculdade, de fazer qualquer coisa, era muito respeitado. No entanto, hoje, o
que se pode perceber é uma desvalorização em todos os campos de nossa
sociedade, tanto na religião, família, trabalho quanto na educação e governo,
através das quais as pessoas encontravam confiança/referência, no passado, não
são mais tão confiáveis ou presentes como costumavam ser. E isso vai deixando
os jovens sem boas referências/ sem parâmetros para diferenciar o que é certo
do que é errado. Mas, conforme afirma SARTI (2005), citado por: Aloídes Souza
de Oliveira, “Vivemos numa sociedade onde a tradição vem sendo abandonada como
em nenhuma outra época da História. Assim, o amor, o casamento, a família, a
sexualidade e o trabalho, antes vividos a partir de papéis preestabelecidos,
passam a ser concebidos como parte de um projeto em que a individualidade conta
decisivamente e adquire cada vez maior importância social”. Como você vê essa
questão? Você tem boas referências da sua família?
Novas
formatações familiares
Há
várias décadas, a família brasileira vem mudando significativamente. Segundo o
psicoterapeuta Ari Rehfeld, nos últimos 50 anos, tivemos mudanças de
comportamentos sociais muito maiores do que nos últimos 500 ou até mil anos.
"A verdade é que padrões sociais estão caindo, e numa velocidade
impressionante. Estamos vivendo um limiar, caminhando para grandes mudanças de
antigos modelos e para construção de novos." A mais
significativa, para Rehfeld, está nas novas formatações familiares. No Brasil,
mais da metade das famílias (50,3%, segundo o IBGE) já não segue o modelo
tradicional com pai, mãe e filhos. Existem famílias de pais divorciados, em que
os filhos são criados só pelo pai ou só pela mãe com guarda unilateral ou
compartilhada; ou pela mãe e o padrasto/ou pelo pai e a madrasta. Famílias que
tanto o homem quanto a mulher tem filhos de uniões anteriores e de ambos, e
convivem juntos, na mesma casa. Famílias de pais solteiros. Famílias que os
avós tomam conta dos netos. E, há pouco tempo, surgiu um novo modelo mais
conhecido como família Homoafetiva em que há a união de duas pessoas do mesmo
sexo.
Todos
esses modelos são consequências / frutos da evolução dos tempos e da incessante
busca pelo afeto e a felicidade. Levando, assim, segundo Ana Beatriz Paraná
Mariano, depois de muito tempo, “as regras jurídicas a se adequarem às
necessidades humanas das mais diversas, em especial, as de caráter afetivo”. E
quando tem o afetivo como principal pilar de sustentação, cai por terra todos
os preconceitos e mesmo valores concebidos pela sociedade; pois, acredita-se
que o amor basta para explicar qualquer tipo de relação. E que não há nada que
impeça o casal de ser feliz, e de se tratar com respeito, consideração, amor,
carinho e atenção, tanto o/a parceiro/a quanto os filhos ou enteados, que
pertencem ou pertencerão a essa nova parceria.
Amor,
segundo padrões de consumo
No
entanto, a grande verdade é que, embora, as relações sejam estruturadas tendo
como base o amor, o que se percebe é que, em pouco tempo, muitos casais, jovens
ou não, admitem que o amor acabe azedando.
E, então, os resultados são relações destruídas e lares desfeitos, “por
motivo qualquer”. Deixando para traz laços de amizade entre as famílias,
consideração, quando tem, para com o (a) outro (a), além do compromisso que
fizeram juntos para criarem os filhos. Partindo para outra aventura que não
sabe até quando pode durar. Alguns jovens, depois da fase do namoro, continuam
“ficando”, até que o mesmo sentimento que os uniu, sobreviva. Existem pessoas
que chegam aos 38 anos com 9/10 parceiros (as). É o chamado amor líquido, que
segundo Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, em entrevista a ISTO É, “é um amor
“até segundo aviso”, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os
enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem
ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata e, assim,
também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na sua forma “líquida”, o
amor tenta substituir a qualidade por quantidade — mas isso nunca pode ser
feito, como seus praticantes mais cedo ou mais tarde acabam percebendo. É bom
lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas um produto de um longo e
muitas vezes difícil esforço e de boa vontade”.
Como você vê essa realidade?
Com
chances de ser reinventada
Muitos
problemas são próprios da própria convivência. Como disse o Padre Antônio
Vieira -“o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhe os defeitos,
enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas”.
Então, parte dos reflexos da própria rotina fica fora do nosso controle. As
novidades não causam mais emoções (pois deixam de ser novidades). Muitos casais
não se elogiam mais, e pouco se dialogam; muitas vezes, você vai a um
restaurante e encontra pares mudos. É como se tudo já tivesse subentendido, já
tivesse sido exaustivamente afirmado. O cotidiano enfraquece os
relacionamentos. Mas existe casal perfeito?
Acredita-se que sim, embora a perfeição não exista; contudo, quando se
tem boas referências de famílias/amigos, boas maneiras, mais gentileza e senso
de responsabilidade, que deveria ser um dos maiores alicerces, a convivência
pode ser mais prazerosa. Com grandes chances de poder ser reinventada. O amor é
forte, mas é muito sensível. Precisa ser alimentado, diariamente. Você acredita
na reconciliação ou não?
A
vida é assim, segundo Guimarães Rosa, grande escritor brasileiro, “esquenta e
esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da
gente é coragem”. Coragem, sabedoria, persistência, controle dos impulsos e capacidade
de se manter calmo (a) para sobreviver no meio da travessia, momento que o real
se dispõe, como diz o mesmo escritor - “o real não está na saída nem na
chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”, isto é, durante a
vida. Coragem para preservar a unidade do lar, mesmo com todas as dificuldades
e adversidades. Sem violência, é claro! Coragem para buscar ajuda. Coragem para
perdoar. Coragem para recomeçar. Para fazer o possível para viver bem; assim,
tudo começará a conspirar a seu favor. Aos poucos, as virtudes vão sendo
projetadas em sua vida, em sua consciência. Tornando a sua relação conjugal ou
qualquer outra relação mais prazerosa. No futuro, os filhos vão agradecer. São
Paulo, na passagem bíblica (BÍBLIA, I Cor. 13 4-7) diz que o amor não é
orgulhoso, não é invejoso, não procura interesses próprios, não se irrita e
tudo suporta, crê e espera.
Bjs+Nilva Moraes Ferreira
Nenhum comentário:
Deixe seu recado, ficaremos felizes em responder
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.