Mãe de autista, vem com adicionais de fabrica!
Oi gente,
Conheci a Dali em um grupo de mães de uma colega blogueira. Tinham colocado uma foto de um menino com seu carros enfileirados e arrumados, não lembro se eu que postei foto do mlk ou outra pessoa.
Dentre os comentários dois me chamaram atenção da Dali e de outra mãe, dizendo que aquilo podia ser sinal de autismo.
Conversa vai e vem, chegamos em um acordo que para uma criança ser declarada autista tem uma serie de fatores a serem levantados e muitos comportamentos digamos "estranhos" em autistas, muitas crianças tem, como enfileirar carros, separar por cores.
Foi então que a convidei pra escrever e cá esta, falando sobre sua rotina com seu mlk.
Então, muita coisa pode ser sim algo que chame atenção e pode ser autismo, ou alguma síndrome, mas uma coisa ou outra em específico não serve como parâmetros e sim um aviso se algo mais "diferente" estiver acontecendo e principalmente...confie nos seus instintos de mãe.
Beijos
- A gente vira fã dos desenhos preferidos do filho para
conseguir conversar com ele, entender o que ele diz e até fazer negociações ;)
- A gente vira chef e se vira nos 30 pra preparar
receitinhas sem glúten/sem leite para os nossos pequenos.
- A gente cria uma tolerância apuradíssima para conseguir
ver/ouvir o mesmo episódio de um desenho/filme ao longo do dia inteiro, e da
semana e até do mês inteiro!
- A gente fica um pouco médica, um pouco cientista, vai
devorando mil artigos e leituras sobre autismo e vivenciando tudo aquilo na
prática, dentro da própria casa!
Nessa convivência diário-científica com um autista eu me percebo
na curiosa sensação de saber exatamente o que ele está sentindo/pensando. Não é
uma sensação de empatia nem de telepatia; é uma sensação estranha de já ter
vivido situações semelhantes. Sempre indago a minha mãe sobre a minha fala,
sobre minhas coisas de crianças e ela diz toda vez que "nunca viu nada de
'anormal'". Mas eu me lembro que eu não era muito de ter amizades, sempre
preferi meu cantinho mais quietinho (e ainda gosto muito disso). Hoje, chegando
aos 32, tenho insights de conceitos de matemática que me torturaram
nos tempos de escola, ou até de orientações que recebi de meus pais e nunca
compreendi bem.
Quando vejo alguém fazer uma pergunta pro meu filho de algo que
acabou de acontecer diante dos olhos dele e ele não consegue responder, parece
omissão, medo, culpa e por isso não responde; mas ali, observando, eu sei no
meu íntimo que é paralisante! Me lembro que muitas vezes minha mãe me fazia
perguntas e eu não sabia responder, mesmo sabendo que deveria saber. Isso ainda
acontece comigo, mas bem menos frequente. Engraçado é que a outra pessoa acha
que estou mentindo ou escondendo informações, mas não é; a sensação é de não
conseguir acessar a informação no cérebro, como se aquela pasta completa
tivesse sumido do seu HD, mesmo tendo a certeza de que a salvei lá.
Eu ainda tenho uma certa "fobia social" que é
socialmente aceita: não costumo visitar pessoas (sem que elas me convidem
previamente) e fico sem saber como agir quando alguém aparece sem avisar (a
primeira sensação é um mini-pânico, segundos que logo passam). Confesso que as
redes sociais me ajudam muito a desenvolver o meu "papel social" sem
ter que exercê-lo, porque sempre estou em contato com as pessoas, me expresso,
troco informações, tenho notícias de pessoas queridas sem necessariamente estar
em contato físico com elas.
Eu também preciso de certa "antecipação" das coisas,
confesso que não sei lidar muito bem com a sensação de trocar o planejado pelo
inesperado. Mas quando falo de "inesperado" não falo sobre os
imprevistos ou as coisas da vida; eu falo de quando você planeja passar o fim
de semana com as crianças na fazenda e o marido diz que não vamos mais porque
temos aquele churrasco de aniversário do melhor amigo; dentro de mim aquilo
causa uma agonia tamanha e eu preciso respirar e me reprogramar internamente.
Em termos de relações pessoais não chega a ser um problema porque fui
aprendendo a evitar embates e discussões desnecessárias, mas internamente não
acontece assim.
Então eu tenho essa "coisa" com meu filho, de
conseguir compreender algumas situações dele, porque me identifico com elas.
Em minhas leituras, me deparei com as palavras da Fátima (Fátima
Dourado, Pediatra e Psiquiatra, Fundadora e Diretora Clínica da Casa da
Esperança, Diretora Técnica da ABRAÇA.), e eu trouxe um fragmento pra vocês:
"Não existem dois autistas iguais. Mas todos
costumam ser socialmente inocentes. Não costumam mentir, não trapaceiam, não
puxam tapetes de ninguém. Pisam constantemente nas etiquetas, não entendem as
sutilezas do jogo social, não querem derrubar ninguém. Podem até mesmo causar
constrangimentos, com suas verdades contundentes".
Por outro lado, tudo isso me leva a uma outra linha de
pensamento. Penso sobre o quanto as famílias eram mais reservadas no tempo que
eu era criança, as informações sobre tudo não eram abertas e livres como são
hoje e muitas pessoas não tinham ideia nenhuma sobre autismo e toda a
gama de transtornos comportamentais. Muitos adultos de hoje foram autistas sem
diagnóstico na infância e tiveram que se desdobrar pra se adaptar ao mundo.
E hoje? Quantas crianças permanecem sem diagnóstico? Sem
acompanhamento? Sem intervenções?
Pode ser o filho de um colega da faculdade, a balconista da padaria, a professora do seu filho. Ou pode ser você. Ou eu!
Pode ser o filho de um colega da faculdade, a balconista da padaria, a professora do seu filho. Ou pode ser você. Ou eu!
Bjs
Dali
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